Em busca de redenção, Balenciaga entrega desfile morno na temporada
Sérios escândalos envolvendo as últimas campanhas de fim de ano obrigaram a marca a se desculpar e baixar o tom para tentar reconquistar a empatia de seus clientes e sua imagem positiva.
_ Sob a direção de Demna Gvasalia a Balenciaga fez muitas, mas muitas coisas interessantes há de se convir. Não à toa, se tornou queridinha de influencers e viu seu caixa faturar consideravelmente mesmo nos anos de ápice da pandemia onde [teoricamente] ninguém deveria sair de suas casas. Bem, se não poderia sair de casa, que a saída fosse as redes sociais e a enxurrada de double “b”s e logomania em fundos neons que testemunhamos triunfar em 2021 e 2022, não foi brincadeira.
_ Estava tudo indo bem, até o escândalo envolvendo uma campanha sugestiva à sexualização de crianças que fez a Balenciaga ir do céu ao inferno em poucos dias. Merecidamente. E queima a Balenciaga aqui [burn bitch! burnnn!!], levanta-se boicote lá, e o gerenciamento de crise da marca? Uma catástrofe. Corta para 2023 e em meio a crise de imagem do estilista e de toda companhia para além do mundo fashion, só as desculpas relutantes não pareceram suficientes. Gvasalia teria que tirar da cartola mais do que um ursinho dessa vez… é, deixem os ursos com a Moschino, por favor.
_ No primeiro desfile pós crise dessa temporada, vimos um discurso ameno, respeitador, de quem sabe que passou dos limites e pretende se redimir. O arrependimento tardou, mas veio. Não só o discurso da marca e do diretor criativo mas a passarela trama toda uma narrativa visual e sonora para a venda desse novo arco de redenção. Enorme sala branca. Sem lama, sem neve, sem coisa explodindo, sem nada. Só a roupa e pessoas para ver.
_ Ao som leve de um pianinho e violão iniciais, começa um desfile que vai explorar a forma da roupa e a silhueta do corpo de uma forma contemporânea, mas com a excelência pela qual a casa é conhecida na história da moda na proposição de silhuetas, construção e volume. Alfaiataria, e mais alfaiataria, tudo em preto, bem feito, com truque de styling discreto, tudo super clean de início. A imagem de moda? Permanece a mesma. Gente esquálida e esquisitona com cara de poucos amigos, longilíneas com ar de pouca vida de oclinhos de sol e cara pálida.
_ A marcha é lentíssima, se comparado a outros desfiles recentes. Nada de agressividade. O desfile segue fluindo e surgem os vestidos que são mais Demna do que Balenciaga a essa altura, e uma inovação sutil do combo de construção e silhueta com vestimentas que inflam e mudam o contorno do corpo. A silhueta remete a uma tensão, desconforto, algo não-natural, porém interessante, descolado, ui. Seria essa tensão o momento delicado que a marca atravessa? Se esse foi o desejo de representação, 10/10 para o time de criação.
_ No entanto, não há nada exatamente empolgante e é um desfile [assim como a maioria dessa temporada] que joga a favor do “vamos vender”. É uma coleção segura, com poucos riscos e pouca vontade de estimular a platéia para além da sensibilização do “sentimos muito”. O que não é de todo ruim, mas entrega uma roupa boa [que deveria está ali sempre] com uma exibição morna que não leva a Balenciaga nem perto dos melhores desfiles dessa temporada. Também, essa não era a intenção.
_ Falar com o mercado, mostrar um novo posicionamento para os clientes era a intenção e foi bem cumprida, com muito, mas muito tecido. As estampas são verdadeiros objetos de desejo [btw, saudades Richard Quiin, sentimos sua falta rs] enquanto as botas over pouco simpáticas são algo que poderia não desfilar ali facilmente e serem substituídas pelos emblemáticos saltos meia também presentes na coleção.
_ No fim das contas, fez o que tinha que fazer e foi embora. Novamente, morno. Arriscaria a dizer até pouco memorável. Mesmo com o último combo de vestidos de “resistance” que foram excitantes.
_ Um arrependimento sutil num arco de redenção midiático que precisa ser feito pensando em negócio, mas que deixa a dúvida sobre o que a equipe teria tirado do atelier para essa temporada se esse caminho anticrise não fosse estendido para o desfile. Fica o desejo para a próxima temporada de uma Balenciaga menos penitente e mais memorável. Abaixo você confere o desfile completo.